CREMERJ, deixa eu ver se entendi…

No post anterior, tentei colocar em palavras algumas crenças sobre a fisiologia do parto e a autonomia das mulheres para começar um diálogo honesto com o CREMERJ, que, através das resoluções 265 e 266, tentou restringir a liberdade da gestante de escolher ser acompanhada por uma doula, obstetriz ou parteira em ambiente hospitalar e punir os médicos que escolhem honrar as escolhas de suas pacientes ao acompanhar ou dar apoio ao parto domiciliar.
Bom, como não obtive nenhuma resposta do Cremerj (hehe) e não sei o que eles acham das minhas colocações, resolvi fazer um exercício de imaginação: baseada na postura do Conselho nesses últimos meses e nas entrevistas à imprensa, vou tentar deduzir quais são as crenças dos médicos que compõem a cúpula do Cremerj e, para cada ponto levantado, farei um contraponto e uma sugestão.

Crença #1: O parto é um evento médico

Enquanto eu e outras ativistas do parto humanizado acreditamos que o parto é fisiológico, o Cremerj o enxerga como um evento médico; isto é, para que o parto transcorra bem, a presença e a atuação de um médico são imprescindíveis. Por isso, não cogita a possibilidade de partos ocorrerem fora do ambiente hospitalar e com equipes compostas por não-médicos (parteiras, obstetrizes e doulas). Como comentou a médica Mariane no post anterior, na visão deles, “o parto nunca foi um evento fisiológico, é um evento hemorrágico”.

  • Contraponto: se o parto não fosse um evento fisiológico, os seres humanos não teriam chegado até 2012 com uma população de quase 7 bilhões, sendo que os partos só migraram para o ambiente hospitalar em massa do início para o meio do século 20. Se não fosse fisiológico, o nascimento não aconteceria em gestantes em coma ou em mulheres subnutridas. Mesmo em condições adversas, as mulheres parem.
  • Sugestão: que tal assistirem a um parto totalmente fisiológico antes de pressupor que as mulheres precisam das intervenções da obstetrícia para parirem?

Crença #2: O parto domiciliar é muito arriscado, mesmo em gestações de baixo risco

A grande maioria dos médicos passou 5 anos de faculdade estudando patologias e aprendendo a corrigi-las com intervenções cirúrgicas e/ou farmacológicas. Em casos de ginecologistas obstetras, passaram a residência observando partos hospitalares, muitos de alto risco, por se tratarem de hospitais referência em risco, e pouquíssimos partos naturais (sem intervenções). Por conta desse histórico, surge no imaginário do médico um bando de possíveis, porém improváveis, complicações – sendo que somente uma pequena parcela destas complicações requer ação imediata. Pensam logo em: prolapso de cordão (0,14 – 0,16% dos partos), hemorragia pós-parto (aprox. 6%), placenta acreta (0,2%), distócia de ombro (aprox. 1,5%)… Enfim, o pensamento vai logo para a patologia (o problema)!

  • Contraponto: Estatisticamente, como eu já disse várias vezes, o parto domiciliar em mulheres de baixo risco é comparável ao parto normal hospitalar em se tratando de resultados maternos e neonatais. É claro que complicações podem ocorrer num parto domiciliar. Mas a equipe – geralmente enfermeira obstétrica ou obstetriz – está preparada para lidar com elas. Os profissionais que atendem partos em casa trazem material como oxigênio e ocitocina sintética, e foram treinados para administrá-los caso necessário (ex. em casos de hemorragia). Também estão prontos para reconhecer casos em que a transferência torna-se necessária, como um prolapso de cordão ou uma verdadeira distócia ou desproporção cefal0pélvica. A recomendação universal é que em casos de cesarianas de emergência (ou seja, por uma real indicação) haja um intervalo de 30 minutos entre a decisão de operar e o primeiro corte. Por essa razão, muitas equipes que atendem parto domiciliar só o fazem se o hospital mais próximo estiver a 20 minutos de distância da casa da gestante.
  • Sugestão: Que tal analisarem o banco de dados Cochrane e se informarem sobre a incidência dessas emergências todas? E reflitam sobre isso: a chance de complicações em uma cirurgia é bem maior que a chance de haver uma real complicação num parto domiciliar sem intervenção ou uso de drogas. Segundo este estudo canadense, a incidência de morbidade severa para mulheres de baixo risco em uma cesárea eletiva é de 2.73%. Pensem nisso.

Crença #3: Nossos interesses vêm antes da saúde dos pacientes

Em uma nota à imprensa, o presidente do Cremerj disse: “o médico não pode compactuar com um evento que pode trazer danos ao paciente”. Entende-se: o parto domiciliar traz danos aos pacientes e o parto hospitalar não. (Será que acham que a doula também traz danos?) Por coincidência, um parto natural, sem uso de métodos para acelerar o trabalho de parto, é muito menos rentável que uma série de cirurgias agendadas previamente num hospital “parceiro”.

  • Contraponto: Acho curioso o Cremerj nunca ter tomado medidas para reduzir o número vergonhoso de cesáreas eletivas (sem indicação) que representam a grande maioria das internações nas maternidades particulares do Rio e que trazem mais danos à paciente (e ao bebê) do que o parto normal. Enquanto isso, dispuseram de tempo e recursos para tentar proibir o parto domiciliar, que representa somente 5 dos 7.000 partos por mês no município do Rio de Janeiro (ou 0,7% contra 56,9% de cesáreas). Com isso, entendo o seguinte: mesmo representando danos maiores aos pacientes (mãe e filho), a cesárea é muito conveniente para os médicos, já que só pode ser feita por eles (monopólio) e ainda pode ser marcada com antecedência, facilitando a agenda (conveniência). Somente quando o parto acontece fora de sua esfera de poder (em casa ou em casa de parto), acompanhado por profissionais embasadas e engajadas (doulas, obstetrizes, parteiras – e o famoso “etc.”) é que ele incomoda o Conselho.
  • Sugestão: Tome vergonha na cara, Cremerj! Quer dizer que a mulher só tem autonomia para optar por aquilo que é conveniente para você? Cesariana eletiva pode, parto domiciliar não? Cadê a coerência? Me mostre as evidências!

Crença #4: A experiência da mulher no parto não importa

Quando o Cremerj fala sobre o parto, fala somente em termos médicos: o local do parto, a equipe, os riscos. Ao colocar o parto sob sua jurisprudência, num ambiente em que o médico dita as regras (o hospital), o conselho pretende garantir uma experiência conveniente, confortável e controlada. Para os médicos, claro. A gestante é meramente uma coadjuvante, cuja experiência subjetiva (desejos, medos, emoções) pouco/nada importa.

  • Contraponto: O parto é uma experiência transformadora para a mulher. É o momento em que vira mãe, em que conhece seu filho, em que seu corpo a surpreende, em que passa por sensações físicas e psíquicas únicas. A mulher não é só um corpo (uma “máquina” que precisa do seu “conserto”), mas um ser humano subjetivo, que sonha, deseja, teme, ora, transcende. Esse corpo que sente, essa pessoa, além de querer o melhor para si e para seu filho, quer também ser tratada com dignidade e respeito.
  • Sugestão: Que tal reconhecer que a experiência da mulher importa tanto quanto os resultados? A mulher quer o mesmo que você – um desfecho feliz, com mãe e bebê saudáveis – mas que ela não quer isso, compreende? Para fazer uma analogia, pense numa refeição. Você está com fome e quer se alimentar. Mas muito além de suprir suas necessidades calóricas e ingerir as vitaminas certas, você também quer um prato saboroso, temperado de acordo com seu gosto. Se puder escolher, você quer comer no seu restaurante predileto e pagar um preço justo. E aí, você acha que isso é querer demais?
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14 Comentários

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14 Respostas para “CREMERJ, deixa eu ver se entendi…

  1. Você escreve superbem, mas às vezes é ainda melhor! Posso colocar este post no meu blog dando os devidos créditos e linkando para cá, Clarissa?

  2. Maria Alice

    Oi, Clarissa, vc está ficando cada vez melhor!
    Parabéns!
    Maria Alice

  3. Muito boa a publicação, acho que eu, assim como as demais gestantes que acompanham seu blog, me sinto muito bem representada pelas suas palavras. Parabéns! Hoje, estive pensando na questão do direito de escolha tanto de mães quanto de médicos e, por um instante, imaginei que a proibição do CREMERJ, com relação à atuação dos médicos em partos domiciliares, é tão desrespeitosa com tais profissionais e com as famílias que optam pela experiência que seria tão complicado quanto a OAB proibir que advogados defendessem criminosos de toda espécie! Poxa, é difícil de engolir um advogado defendendo um assassino, estuprador ou corrupto, mas, a escolha é do profissional e ele que assuma os riscos, fora que a Declaração dos Direitos Humanos garante este serviço. É claro que não há que se comparar as gestantes aos marginais rsrs, longe de mim, mas quero enfatizar a questão do respeito à escolha profissional.

  4. Gato Precambriano

    Pois é, esse é o tipo de coisa que me preocupa:
    “… se o parto não fosse um evento fisiológico, os seres humanos não teriam chegado até 2012 com uma população de quase 7 bilhões, sendo que os partos só migraram para o ambiente hospitalar em massa do início para o meio do século 20”
    Ocorre que eramos 1 bilhão em 1804, e levamos 123 anos para dobrar e chegar ao 2º bilhão, em 1927. Contudo bastaram 47 anos para dobrarmos de novo em 1974, chegando a 4 bilhões (se os dados daqui http://www.subdude-site.com/WebPages_Local/Blog/topics/environment/enviro_worldPopGrowth_charts.htm estão corretos), e +25 anos para chegarmos aos 6 bi em 1999.
    E também segundo http://en.wikipedia.org/wiki/Maternal_death#Maternal_death_rates_in_the_20th_century,
    “At the beginning of the 1900s, maternal death rates were around 1 in 100 for live births. The number in 2005 in the United States was 11 in 100,000, a decline by two orders of magnitude”.
    Ok, sou inteiramente a favor de se reduzir o número de cirurgias desnecessárias, contudo essa discussão deve ser travada da forma mais técnica, serena e desapaixonada possível. “Humanizado” para mim e todo procedimento que vise a preservar a vida, então colocar as coisas em termos de Hospital = Não-humanizado extremamente problemática.
    Alguns termos podem ser muito enganosos. Sim, gestação e parto são “naturais”, assim como morrer de parto, ou em decorrencia de, que é o que acontecia maciçamente até meados do século XX.
    Parir tem lá sua carga de poesia, pois se está “dando a luz” a um novo ser, etc., mas, ao menos em mamíferos, não é lá a forma mais eficiente e livre de riscos de fazê-lo. Nem poderia ser já que é resultado de um loongo processo evolutivo, necessariamente messy. Então esse negócio de que tudo o que é “natural” é bom deve ser visto com o devido grão de sal.
    “Pensam logo em: prolapso de cordão (0,14 – 0,16% dos partos), hemorragia pós-parto (aprox. 6%), placenta acreta (0,2%), distócia de ombro (aprox. 1,5%)… Enfim, o pensamento vai logo para a patologia (o problema)!”
    Bom…é. Isso se chama Principio de Cautela, eu acho, ou algo assim. Por outro lado, se somarmos essas probabilidades de complicação dá algo como 7,74-7,76%, ou algo como 774-776 em 10000, é isso? Se for, me parece meio alto…
    ” a chance de complicações em uma cirurgia é bem maior que a chance de haver uma real complicação num parto domiciliar sem intervenção ou uso de drogas. Segundo este estudo canadense, a incidência de morbidade severa para mulheres de baixo risco em uma cesárea eletiva é de 2.73%. Pensem nisso.”
    Eu penso, mas isso deve ser pesado vis-a-vis dados reais de complicações em parto domiciliar. Voce não apresenta nenhum número, apenas uma assertiva. Para poder comparar eu teria que ter de um lado a incidencia de morbidade (desculpe ser chato, mas morbidade é morte, certo? Logo não dá para algo ser mais severo do que a morte, não é? Aliás, num caso voce fala em “real complicação”, no outro em “morbidade severa”, o que é uma interessante escolha de palavras) em parto domiciliar, versus complicações reais em cesáreas em ambiente hospitalar.

    • Adorei o seu comentário, GP! Obrigada por ser um dos primeiros a fazer questionamentos realmente pertinentes. É bem melhor discutir com gente inteligente :-)
      Vamos lá.
      1. Sim, é verdade que o argumento usado para dizer que o parto é fisiológico porque sempre existiu é meio complicado (e pode ser usado para legitimar várias práticas questionáveis). De fato, a população mundial explodiu nos últimos 50 anos e a mortalidade materna e neonatal reduziu no mesmo período. Isso parece indicar que a migração dos partos para ambientes hospitalares é o maior fator para a redução da mortalidade materna. Mas a relação não é tão simples assim. Primeiro, poucas pessoas sabem, mas quando os partos migraram para os hospitais nos séculos 18 e 19 na Europa, a mortalidade materna era altíssima, muito maior do que em parto atendidos por parteira. A principal causa era a infecção, causada pela falta de higiene dos médicos, que não lavavam as mãos entre as aulas com cadáveres e o exercício da profissão. A redução da mortalidade até os números atuais se deve principalmente aos medicamentos superiores que existem hoje: antibióticos para depois de cirurgias e ocitocina sintética para hemorragias (este último que é aplicado por parteiras e enfermeiras obstétricas modernas em partos domiciliares ou casas de parto). E, claro, às cesáreas bem indicadas. Outro dado relevante é que o Brasil tem 98% de partos hospitalares e ainda assim um índice de mortalidade materna muito acima da média. Países europeus, que tem índices baixos, também tem maiores percentuais de partos domiciliares e, especialmente, partos normais em casas de parto (centros de parto normal) atendidos por parteiras ou obstetrizes (“midwives”).
      2. Sobre as complicações que podem ocorrer e que são preocupantes, podendo resultar em morbidade (problemas, maus resultados) ou mortalidade (morte), a hemorragia é a maior delas (7%), mas ela pode ser administrada num parto em casa, com o uso da ocitocina sintética (o mesmo que seria feito num hospital). Ou seja, a hemorragia no parto domiciliar não traz riscos maiores por ser em casa, já que o tratamento é o mesmo que ocorreria no hospital.
      3. Quanto ao princípio de cautela, eu entendo perfeitamente. Todos temos esse princípio para alguma coisa. Eu, por exemplo, sou muito medrosa para esportes. Eu nunca esquiaria numa montanha mega íngreme ou faria mergulho em mares profundos. Eu sei que o risco é baixo, mas ele existe e, pra mim, não compensa. Eu simplesmente não me sinto confiante o suficiente e não tenho vontade de fazer essas coisas. No meu caso, estou sendo cautelosa e abrindo mão de um certo tipo de experiência. O mesmo vale para quem quer ou não ter um parto em casa – lembrando que estatisticamente, o parto domiciliar é tão seguro quanto o parto hospitalar em gestações de baixo risco. Você pode ver os links para alguns artigos (inclusive um que conclui que o parto domiciliar é menos seguro para bebês) no meu post sobre Parto Domiciliar (Parto domiciliar: o que você deveria saber antes de julgar).
      Basicamente, GP, é uma questão de direitos reprodutivos da mulher. Eu acho que a mulher tem o direito de determinar como será essa experiência. Infelizmente, no Brasil as opções são péssimas: probabilidade enorme de cesárea se for parir pelo plano de saúde (próximo de 90%) e alto risco de sofrer violência obstétrica (25%) e intervenções desnecessárias como episiotomia (94%!!) no SUS. São poucos os obstetras humanizados (para mim, essa palavra significa sobretudo respeito, protagonismo da mulher e medicina baseada em evidências) e estes geralmente cobram caro. Também temos uma carência de casas de parto. O parto domiciliar acaba sendo uma opção para mulheres que buscam uma experiência menos medicalizada. E elas têm esse direito. E não são loucas, porque as evidências indicam que é seguro.
      Obrigada de novo por aparecer aqui, volte sempre, e abraço!

    • Olha pela primeira vez eu leio um comentário questionador e me dá vontade de escrever em resposta!!! Concordo em gênero e número e grau com tudo que a Clarissa falou, uma vez que por estar imersa em estudos, e buscando sempre o embasamento científico para obter minhas respostas, eu também julgo ser decisão da mulher a escolha do parto em gestações de baixo risco. O parto não é um ato médico. O seu questionamento é bem interessante e mais ainda a forma polida com a qual foi exposto. E já que gosta de obter as evidências para poder comparar aproveite para ler o material sugerido pela Clarissa.
      Eu não tinha conhecimento da quantidade de estudos e dados científicos sobre os partos domiciliares, e fico feliz em tê-los a meu favor nesse momento.
      Sobre as complicações das cirurgias cesáreas, temos que lembrar que para a mulher pode ser “seguro”, mas será sempre tão seguro quanto qualquer outra cirurgia de “barriga aberta” onde você fica exposta a infecções e sujeita até a iatrogenias “simples” como gazes esquecidas e etc… (estou apenas expondo fatos que sabemos que acontecem em qualquer cirurgia de grande porte..).
      Você abriria a sua barriga para retirar um cálculo renal (internação, jejum, lavagem intestinal, dieta, e anestesia….) se de repente um outro médico te mostrasse provas de que esse cálculo normalmente é expelido e que apesar de sentir dor, será natural?
      Já pensou como é arriscado você sugerir uma cirurgia sabendo que ela não é indicada? Seria crime se não fosse tão banalizado isso aqui no nosso sistema de saúde…
      Mas fora essa questão da saúde da mulher, você deve com certeza conhecer milhares de mulheres que foram operadas né? Quantas dessas cirurgias foram marcadas para 40 semanas? As únicas pessoas que eu conheço que foram operadas com 40 semanas foram pq entraram em TP e algo deu errado (seja falsa indicação do médico, ou parada de progressão, fadiga da mulher sei lá..)… Fora essas a grande maioria foi operada entre 37 e 38 semanas…
      Tem noção do prejuízo fetal??
      Tem idéia de quantas dessas crianças NÃO FORAM AMAMENTADAS? Pois por serem prematuras (sim, são prematuras muitas vezes pois o capurro as vezes dá MENOS SEMANAS do que as 37 marcadas pela data da última menstruação…) muitas vezes ocorre uma dificuldade inicial com a amamentação (bebê nasce MUITO molinho… fato…) e logo ocorre a má indicação de bicos com fórmulas e mais uma criança prematura cresce sem imunidade, por não ter sido amamentada…
      Entende o prejuízo da cadeia como um todo??

      Ai voltemos para as questões do parto domiciliar…
      As mulheres não tem mais segurança para parir nos hospitais, está cada vez mais difícil encontrar alguém que esteja disposto a te oferecer um parto respeitoso. Tendo em vista esse absurdo real e atual, muitas mulheres estão buscando formas mais respeitosas de parir, e com isso muitas mulheres tem escolhido suas casas para parir.
      O Ministério da Saúde e a OMS defende que a mulher deve ter direito de escolha, e estimula o parto humanizado, bem como o trabalho de doulas e parteiras…
      Sendo uma gestação de baixo risco e tendo o planejamento adequado, uma equipe bacana que te de suporte não tem para que duvidar do processo.
      Alguma enfermeira obstétrica de repente pode lhe dar dados quantitativos de taxas de morbi mortalidade em PDs, mas recentemente a Heloisa Lessa em entrevista mencionou que assistiu 400 partos domiciliares em sua carreira (numero aproximado acho) e que dos 400 apenas 30 foram transferidos para hospital e nasceram lá sem nenhum problema.
      Novamente elogio muito sua proposição, e questionamento colocado. É MUITO bom mesmo discutir com pessoas inteligentes e que sabem questionar sem agredir!!!

      Abraços!!

  5. Clarissa, grato pela resposta e pelos esclarecimentos, em particular a distinção entre morbidade e mortalidade. Vou precisar de um tempo para digerir isso.
    ” é uma questão de direitos reprodutivos da mulher. Eu acho que a mulher tem o direito de determinar como será essa experiência”
    Totalmente de acordo. Mais ainda depois que virei pai de uma menina há quase 18 anos. E é daí que vem minhas preocupações, pois foi uma gestação ótima, minha esposa era e é saudável. Ela queria fazer por parto normal, o obstetra (cara escepcional, já falecido) era pro-parto normal, mas chegou a 40ª e ela não vinha. Daí foi feita a indução no hospital, mas ela estava enrolada no cordão, e então, só então, quando a coisa ameaçava ficar séria, se teve que partir para a cesárea (minha mulher sofreu duplamente portanto). Mas tudo deu certo no final. Daí quando vi esse movimento, pensei “poxa, se o parto da minha esposa, que até então era ok, tivesse sido em casa…” E anedótico, eu sei, mas enfim…

    Priscila, sim, eu sei que cirurgia não é um passeio no parque, mas as opções tem que ser pesadas dentro de avaliações de risco realistas, e algumas coisas que vi e li aqui (não aqui aqui, aqui ali) e ali, apontavam para uma idealização, romantização da coisa, mas a resposta da Clarissa e a sua passam longe disso. Em todo o caso acho importante ter atenção a isso, nem romantizar, idealizar de um lado, nem vilanizar do outro.
    ” está cada vez mais difícil encontrar alguém que esteja disposto a te oferecer um parto respeitoso.”
    Essa é outra questão, ainda que relacionada. Não sei se é disso que voce está falando, mas li na Lola Aronovich depoimentos de parturientes (não sei se é o termo correto), especialmente pobres e negras, sobre o tratamento absolutamente desrespeitoso dispensado pelas (algumas, suponho) equipes, o que é INADIMISSÍVEL, e tinha que ser mais amplamente denunciado. Eu não conhecia essa realidade, e fiquei estarrecido quando soube. Isso tem que mudar com ou sem PD, ainda mais sem.

  6. Clarissa, só mais uma coisa, realmente acho que voce devia repensar esse argumento do ato-fisiológico-porque-somos-7-bilhões. Como está soa falacioso. (comecei a ler o post que vc indicou)
    []’s

  7. claudia

    Finalmente um debate interessante com uma pessoa que não conhecia profundamente o assunto!! Os questionamentos do GP são pertinentes! O debate entre os profissionais da saúde deveria ser desta forma. Não quer dizer que agora todo mundo vai fazer o parto em casa. A questão central é respeitar as pessoas que escolhem o parto domiciliar, pois elas fazem esta escolha conscientes dos riscos e benefícios. O que me irrita muito são os comentários preconceituosos de muitas pessoas que não conhecem o assunto e julgam as mulheres como irresponsáveis. Não acho justo.

  8. neirismar

    Fico triste com esses questionamentos. Que importância foi dada a saúde materno-fetal ao longo dos anos, para se chegar a esse momento? Como é a realidade de paises do primeiro mundo que têm essa prática? quem são os protagonistas desse procedimento? quem responde pelos desfechos negativos? Que tipo de economia se quer ter e para quem? Não temos sequer uma assistência pré-natal razoavel. Quais as estatísticas das complicações em gestantes com ITU, amniorrexe, TORCHS, colonização de b-hemolíticos associados a endometrites, entre outros? Não é baixo. Não podia deixar de ser visto e analisado pelos nossos gestores, mas é.
    Na justiça, a obstetrícia está no topo de processos por indenizações. E as Faculdades? o que devem ensinar? É um campo em que não se cabe medir forças. Deixem que as escolhas sejam feitas mas também definam seus responsáveis diretos. Sinto que o Ministério da Saúde não tenha uma abrangência igualitária e assegurada num território tão vasto como o nosso Brasil de desigualdades, no papel, é tudo muito simples. Vamos aguardar…

    • Não sei se estou respondendo o seu comentário, mas os países de primeiro mundo não proíbem partos domiciliares e os índices de morte maternal e neonatal são bem menores que os nossos: trata-se, sobretudo, do reconhecimento do direito inalienável da mulher de ter seu filho nas condições escolhidas por ela. Claro que um bom pré-natal é condição sine qua non para qualquer gestação e um parto domiciliar só deveria ser contemplado em mães e bebês saudáveis. Quanto ao processo de indenização, isso é uma questão a ser respondida pela sociedade. Eu penso que quando o discurso médico “promete” (mesmo que indiretamente) um parto “sem risco”, acaba gerando uma grande frustração e conclui-se que foi o médico que falhou, abrindo espaço para processos na justiçã. Mas quando a sociedade compreende que não existe parto sem risco (nem vida sem risco nem NADA sem risco), mas sim práticas estatisticamente mais ou menos arriscadas, aí a história muda de figura. Quanto à sua pergunta sobre o ensino da medicina, as faculdades deveriam ensinar medicina baseada em evidências – o que não acontece. Veja, por exemplo, o caso da episiotomia, que há 3 décadas (!!!) não é mais recomendada como intervenção de rotina e, no entanto, os obstetras brasileiros seguem praticando-a sem critério. Mas todos esses assuntos precisam ser discutidos, debatidos, e não silenciados de forma ditatorial. Obrigada por contribuir aqui no blog!

  9. Patrícia

    É… continuo a favor do meio termo: a natureza sendo respeitada, todavia com os recursos emergenciais à disposição.
    Não vejo muito um “porquê” pra radicalismos…
    Nem considero correto a imposição d cesárea sem necessidade por exemplo, como nem também a ausência d estrutura apenas p ter seus direitos e desejos respeitados…
    Acho q dá pra fazer um parto d uma forma q satisfaça ambas as partes, sem diminuir a mágica do momento.

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