Arquivo do mês: junho 2012

Afinal, Perinatal, o que querem as mulheres?

Duas semanas atrás, uma amiga muito querida (grávida de sete meses) e seu marido (que carinhosamente apelidei de “superdaddy”)  fizeram uma visita guiada pela mais moderna e brilhante maternidade privada do Rio. Ao contrário do que você imaginaria em se tratando de tão requisitada instituição, saíram de lá com uma péssima impressão.

“Senti como se qualquer coisa fosse mais importante (a decoração do quarto, as visitas, as fotos, blá blá blá) do que o motivo para se estar ali: parir. Não conseguimos conhecer a sala de parto, mas fomos apresentados a uma hospedagem como se estivéssemos procurando um hotel!”, desabafou minha amiga. Superdaddy teve a nítida sensação de que, para conseguirem o parto e o nascimento que desejam – natural, humanizado, respeitoso -, precisarão lutar por isso com unhas e dentes. (Ele está certíssimo, infelizmente)

A tal “sala de parto humanizada” da Perinatal da Barra. Hmm.

A julgar pela visita deles, as mulheres que buscam os serviços da Perinatal (e de outras maternidades privadas) querem mesmo manicure, escova, maquiagem, luzes, câmera e ação! Apesar das campanhas do Ministério da Saúde, das indicações da OMS e da preferência expressa por várias mulheres (famosas e plebeias), as maternidades parecem achar que o que importa para nós são as futilidades e os adornos, e não a experiência de dar a luz aos nossos bebês.

Mas será que é isso mesmo? Será que nós mulheres, no momento mais transformador de nossas vidas, queremos só perfumaria, frufrus e falsas promessas de “humanização”?

Eu acredito que não. Acredito que queremos o melhor para nossos filhos. Infelizmente, nem todas nós sabemos o que isso significa. E é aí que as maternidades particulares nos deixam na mão. Porque, na condição de instituições de saúde (e não casas de show, hotéis ou fábricas de bebês), as maternidades deveriam nos direcionar para as melhores práticas em saúde e não para supérfluos que nada têm a ver com a saúde do par mãe-bebê.

No entanto, baseado em relatos de conhecidos (“Me senti em um hotel, em um fast food de bebês!” disse outra amiga) e da maioria dos famosos (como o caso recente da celebridade que “tentou”, mas acabou caindo na cesárea nesse mesmo hospital), o interesse das maternidades não é nas melhores práticas. O modelo de negócios é mais parecido com a fábrica de pães mesmo. Disfarçada de hotel 5 estrelas, claro.

É uma simples questão de grana (lógico! poderia ser de outra coisa? saúde, ética, medicina baseada em evidências – não, esses “detalhes” não entram na conta das maternidades privadas brasileiras). Será que estou sendo cínica ou irônica demais?

Vou provar que não. Primeiro, os números:  os hospitais e maternidades privados têm taxas de cesáreas que beiram ou até superam os 90%. Grande parte dessas cirurgias são agendadas (ou seja, feitas fora do trabalho de parto) – para conveniência da equipe médica e também da instituição, que pode encaixar todas as pacientes na sua “linha de produção padrão” (e, de quebra, possivelmente lucrar com os dias que o bebê tirado prematuramente ficará na UTI neonatal). As experiências de pessoas aguardando a chegada do bebê no berçário me lembram muito a espera de uma pizza num restaurante (“já saíram dois bebês, será que o próximo é o fulaninho?”). Em contrapartida, a paciente de parto normal é duplamente “ruim” para os negócios; ela não só ocupa a sala de parto por mais tempo, como também fica internada por menos tempo. Claro que isso seria facilmente resolvido com salas de PPP (pré-parto, parto e puerpério), mas isso é outra história!

Agora vamos às evidências menos tangíveis. O site da Perinatal tem uma ficha de pré-internação para agilizar o processo para as futuras famílias. Mas – saca só –  a ficha só tem duas opções: “cirurgia de emergência” e “cirurgia eletiva”(cadê o parto normal? oops! #fail).

As maternidades paulistas são ainda mais descaradas. A Pró Matre (89,5% de cesáreas em 2009) diz no site que é “pioneira no conceito de atendimento humanizado” e depois, no parágrafo seguinte, ao descrever sua sala cirúrgica estilo aquário (fazendo do nascimento um espetáculo para ser mostrado e não vivido), deixa escapar que “o visor plasmático permanece opaco durante a cirurgia” (ué, e o parto? pra onde foi? ih,  sumiu!). A campeã em cesarianas na capital paulista, a maternidade Santa Joana (93% em 2009), se promove como “uma das melhores maternidades de todo o país” e diz para as futuras clientes que “toda a atenção está voltada para a sua satisfação, a sua segurança e o seu bem estar”. Hm… se a preocupação fosse a satisfação (70% das mulheres desejam o PN), a segurança (ele é 4 vezes mais seguro que a cesárea) ou o bem estar (apresenta menor índice de depressão pós-parto, maior vínculo mãe-bebê pós-parto e maior sucesso na amamentação), não teriam só 7% de partos normais, né não?

E isso é só o parto – não vou nem entrar no atendimento ao recém-nascido! A minha querida amiga teve que “corrigir” o funcionário da Perinatal por mais de três vezes quando ele lhe apresentou o berçário dizendo que era lá que seu bebê ficaria. Ela falou em alojamento conjunto – prática recomendada por praticamente todos os órgãos de saúde (Ministério da Saúde, OMS, AAP) – e ele a fitou como se fosse uma alienígena. Sobre a mesma maternidade, ouvi de uma enfermeira obstétrica: “tivemos dois casos recentes […] em que o pediatra deu alta (sem observação, direto pro quarto) e foi embora. E o berçário sequestrou mesmo assim.” Cadê o respeito? Cadê as melhores práticas? Cadê a humanização?

Parece que as maternidades privadas estão pouco se lixando para isso. Contanto que o dinheiro continue entrando, que os médicos “bonzinhos”  sigam fazendo suas cirurgias, e os leitos permaneçam cheios (até mesmo os da UTI neonatal), para eles está ótimo! [e ai de você que pensa que a São José aqui no Rio é melhor – esta consegue ser ainda menos comprometida com os desejos das parturientes, já que não aceita a entrada de doulas e nem tem sala humanizada]

Portanto, acho que a pergunta do início não faz muito sentido. Ela precisa ser invertida: Afinal, mulheres, o que nós queremos  das maternidades em que teremos nossos filhos?

Sala de parto de uma maternidade na Alemanha

Escova e maquiagem? Quarto decorado? Berçário-aquário (com plateia, luzes e câmeras)?

Ou será que temos a coragem de querer e de exigir MAIS do que isso – para o bem de nossos filhos e de nós mesmas?

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20 dicas para ser uma mãe mais ecológica

Aproveitando o clima da Rio+20 e da Semana do Meio Ambiente, resolvi fazer uma lista de 20 atitudes simples que você pode tomar em prol do planeta, lembrando que se adotar pelo menos uma medida em cada categoria (alimentação, higiene, filosofia de vida, lazer e geral), amanhã já será uma mãe mais ecológica e sustentável do que hoje.

Alimentação
1. Amamente o máximo possível: quanto mais tempo você conseguir amamentar o seu filho, menos gastará com leite industrializado, cujo processo de fabricação utiliza muitos recursos do nosso planeta (veja a dica #3).

2. Evite comida industrializada: eu sei que é prático comprar potinhos de papinha em vez de fazer a própria comida pro seu bebê, mas existem comidas rápidas mais naturais e ecologicamente corretas. As frutas são o fast food perfeito. Você pode descascar e oferecer ou raspar com uma colher antes.

3. Coma menos carne: nossos amigos bovinos (vacas e bois) estão entre os maiores produtores de gás metano, cujo excesso é uma das principais causas do aquecimento global. E grande parte do desmatamento que acontece no Brasil é para abrir espaço para a agropecuária (ou para plantar milho ou soja para o gado consumir). Tudo isso é para criar animais que irão para o abate e depois para nossos pratos. Portanto, tirar a carne do seu cardápio é possivelmente a melhor coisa que você poderá fazer pelo futuro do planeta.

4. Prefira alimentos de origem local: quando você compra frutas e legumes da estação ou produzidos localmente, menos combustível foi usado para transportá-los até o mercado. Portanto, calce o tênis e vá à feira! (aliás, esse também é um programa bacana para levar as crianças)

Higiene
5. Use fraldas de pano: as fraldas de pano consomem menos recursos do que as descartáveis – mesmo levando-se em conta a água para sua lavagem – e hoje em dia são muito práticas, confortáveis e lindas. Se você ainda não conhece as fraldas de pano modernas, não sabe o que está perdendo.

6. Use paninhos laváveis em vez de algodão ou lenços descartáveis: para fazer a higienização do bebê entre as trocas de fralda, considere substituir o algodão ou lenços descartáveis por paninhos umedecidos com uma solução caseira de água, óleo (de amêndoa ou de bebê) e um tiquinho de sabonete líquido neutro. Depois é só jogar na máquina e lavar com suas roupas. Os paninhos podem ser fraldinhas ou retalhos de camisetas velhas. Quer algo mais ecológico do que isso?

7. Elimine os supérfluos: Metade dos itens na prateleira para bebês na farmácia são completamente desnecessários. Seu bebê não precisa de hidratante, perfume e nem de shampoo (muito menos condicionador). Se você usar fraldas de pano, também pode riscar dessa lista as pomadas tipo hipoglós.

8. Corte pela metade a quantidade de produtos de limpeza e higiene pessoal: Mesmo eliminando os supérfluos, você pode ser ainda mais ecológica (e econômica) usando quantidades menores dos produtos que compra. Isso vale especialmente para coisas como pomadas e pastas (faça o teste: passe a usar bem menos, pra você fazer como não faz a menor diferença no resultado), e também para produtos de limpeza da casa (sabão em pó e amaciante em especial).

Filosofia de vida
9. Evite a tentação de dar mimos e presentes para mostrar o seu afeto: Cada produto que você compra aumenta sua pegada ecológica e se você costuma mostrar afeto presenteando o seu filho, você ainda o ensina a ver o consumo como uma atitude de amor. Acredite em mim: eu sofro disso, mas quanto mais eu aprendo sobre ecologia, mais sei o quanto é importante comprar e gastar menos.

10. Valorize o ser e não o ter: de novo, isso tem a ver com o excesso de consumo, que por motivos óbvios está relacionado ao desmatamento, à poluição e diminuição dos recursos naturais. Quando valorizamos atividades e atitudes relacionadas ao ser (experiências, pensamentos, emoções), reduzimos a necessidade de ter (brinquedos, roupas de marca, gadgets).

11. Crie um pequeno consumidor consciente: quem entende a história dos alimentos e itens que consome (sua origem, a cadeia de produção etc.) e de como isso impacta o meio ambiente já está a meio caminho andado de mudar suas práticas. Mas é preciso dizer que isso se aprende pelo exemplo e não só com palavras, então primeiro experimente ser uma consumidora consciente você mesma!

12. Ame e respeite a natureza: só um amor profundo e incondicional por esse nosso incrível planeta será capaz de nos impulsionar a mudar nossos hábitos enraizados. Eu adoro ver documentários tipo Planet Earth e caminhar próximo à natureza para me inspirar a cuidar melhor da nossa terrinha.

Lazer
13. Escolha um dia para ficar sem tecnologia: o mero ato de tirar os aparelhos da tomada reduz o consumo de energia elétrica e um dia sem televisão, videogame e computador pode aproximar a família de um estilo de vida mais simples e, assim, mais ecológico.

14. Plante ervas no quintal, na varanda ou na janela: além de sair da terra para a mesa em segundos, cultivar plantas nos aproxima da natureza e pode fazer com que tenhamos mais cuidado com o planeta. E as crianças adoram as plantinhas!

15. Em aniversários e/ou festinhas, use copos e pratos reutilizáveis: você não precisa usar a própria louça do dia a dia (que quebra), mas uma boa alternativa é comprar copos e pratos de plástico que possam ser reaproveitados, ao invés de comprar aqueles mais baratos que não duram nada.

16. Faça do shopping um lugar para comprar, não para passear: essas “mecas de consumo” servem justamente para isso e não devem ser tratados como entretenimento (veja a dica #10).

Geral
17. Compre menos: eu só passei a levar isso a sério depois de ver o excelente vídeo The Story of Stuff (abaixo). Nada tem um impacto maior do que simplesmente recusar-se a participar do ciclo de desmatamento, poluição e esgotamento de recursos.

18. Reaproveite roupas e acessórios de amigos e parentes: tão óbvio e milenar que dispensa explicações.

19. Doe roupas, brinquedos e objetos que possam ter utilidade para outras famílias: idem

20. Se não der para ser “verde” o tempo todo, seja sustentável pelo menos 50% do tempo: qualquer pequena mudança será benéfica. Não termine de ler isso achando que você não conseguirá ser ecológica porque não está disposta a usar fraldas de pano ou virar vegetariana. Experimente usar fraldas de pano durante o dia, quando seu filho fica em casa, só duas ou três por dia. Escolha um dia para ficar sem carne por semana. E pronto, já estará fazendo uma diferença!

Antes de partir, não deixe de ver o vídeo. Prometo que serão 20 minutos muito bem gastos! (ou melhor, 40, já que você já dedicou os primeiros 20 lendo esse texto)

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