Arquivo do mês: maio 2012

5 dicas para diminuir o choro (ou a “cólica”) do bebê

Agora que você já compreendeu  o que é (e o que não é) a cólica e sabe quão rara ela é em culturas não-ocidentais, seguem abaixo cinco dicas que podem contribuir para a diminuição do choro do seu bebê. Não prometo milagres, mas garanto que você se sentirá mais capaz e mais tranquila depois de saber que existem ferramentas não-farmacológicas para reduzir o sofrimento ou desconforto que se manifesta pela “cólica”.

Aprenda com o Obama: um bebê que chora precisa de colo!

1. Entenda que chorar é normal – e o instinto de acalmar o seu bebê também!

Bebês choram. É sua principal ferramenta de comunicação. Eles choram para comunicar fome, desconforto, solidão, susto… Choram por motivos que talvez nunca compreenderemos de fato. No entanto, da mesma forma que eles choram quase que por reflexo, nós também temos o impulso de fazê-los parar de chorar. O choro de um bebê nos incomoda profundamente. E esse incômodo nos mobiliza para agir!

Eu adoro essa foto do Obama acalentando uma bebezinha desconhecida numa multidão de fãs que estavam visitando a Casa Branca. Pode até ter sido uma jogada de marketing pessoal, mas adorei que Obama agiu instintivamente naquele momento: pegou a criança no colo, trouxe-a carinhosamente para perto do peito e pronto, o choro parou! Longe das câmeras de televisão, pode não ser tão simples. Mas, mesmo assim, confie. Confie na necessidade do bebê em chorar e na sua habilidade de acalmá-lo.Procure não se desesperar com o berreiro nem pare para refletir muito sobre o que, por que, como etc. Respire e aja instintivamente. Tenho certeza de que, se você permitir, verá que o seu instinto é pegar seu filho no colo, conversar com ele ou alimentá-lo, ou trocar sua fralda, ou tirar seu casaco ou balançá-lo em seus braços ou… enfim, basta de exemplos! Simplesmente desligue um pouco a mente preocupante e permita que o coração entre em ação.

2. Amamente sem horários fixos (“sob demanda”)

Como especulei no post anterior, uma possível causa da cólica é o desconforto abdominal gerado pela imaturidade do sistema digestivo. Seguindo essa linha de raciocínio, uma explicação pela tranquilidade dos bebês não-ocidentais seria a forma particular em que as mães os amamentam. E a principal diferença entre os bebês não-ocidentais e os nossos bebês, em se tratando da amamentação, é o relógio: longe dessa nossa cultura “moderna”, ditada pelo relógio e pela lógica da produção e eficiência, os bebês não são amamentados em intervalos fixos de 2 ou 3 horas, por 10 ou 15 minutos em cada peito, alternando um e outro etc. etc. Por não ter essa preocupação de estar fazendo “certo”, de estarem mamando “o bastante” ou de não se tornarem “escravos do bebê”, o peito é oferecido quando o bebê demonstra sinais de fome. Assim, eles mamam pouca quantidade por mamada, mas várias vezes ao dia. Assim, o estômago deles nunca fica tão cheio nem tão vazio, minimizando o desconforto. Pelo menos em tese ;-)

3.  Faça como os cangurus

Como vimos no post anterior, a rotina do recém-nascido não-ocidental difere principalmente da rotina dos ocidentais pela falta de acessórios que “facilitam” a vida dos pais ocidentais (bebê conforto, berço, balanço etc). Esses acessórios todos permitem que o bebê fique longe de nós, quando na verdade sua fisiologia é de uma criatura extremamente prematura, despreparada para ficar sozinha  – tal como o filhote de canguru. O bebê cujos pais não têm todos os acessórios fica muito mais no colo ou amarrado junto ao corpo da mãe (ou de uma tia, irmã mais velha etc), geralmente em posição vertical. Por que insisto tanto na posição vertical? Bom, é uma questão de bom senso: de novo olhando para a fisiologia, quando o bebê fica na vertical, a gravidade dificulta a subida do leite pelo esôfago, o que pode ser muito incômodo, especialmente porque o esfíncter do bebê não está bem fechado ainda (causando golfadas e, muito raramente, refluxo).

O toque humano também é um fator primordial para o bem estar geral do recém-nascido. O contato pele a pele ajuda os nenéns pequenos a regularem suas temperaturas e respiração, acalmando-os naturalmente. Se quiser saber mais sobre os benefícios do toque, leia o post sobre exterogestação.

Você pode aprender a técnica do embrulho ou comprar um swaddle blanket para facilitar a sua vida.

4. Experimente a técnica de Harvey Karp

Harvey Karp tem milhares de fãs porque ele popularizou uma técnica supostamente milagrosa para acalmar os bebês naquela fase da vida em que a cólica acontece: entre 6 semanas e 3-4 meses de vida. Segundo ele, sua técnica desencadeia o “reflexo de calma” que faz os bebês pararem de chorar. Li o seu livro O Bebê Mais Feliz do Pedaço depois de ver as 700 resenhas positivas na Amazon e achei a técnica consistente. Recomendo o livro (que infelizmente parece estar esgotado) ou, em último caso, o DVD.

Como não vou deixar minhas leitoras na mão, segue um resumo dos principais pontos da técnica de Karp, que ele chama de 5 S’s.

  • Swaddling (ou embrulhar): consiste em embrulhar o bebê num cueiro, deixando os braços bem juntinhos ao corpo. A lógica é que a restrição simula as condições uterinas e “desativa” o reflexo de Moro (que pode despertar ou até assustar o bebê).
  • Side-lying (deite-0 de lado): com ele embrulhado, vire-o de lado, segurando-o como se fosse uma bola de futebol americano, com a barriguinha ligeiramente para baixo.
  • Shushing (faça ‘shhh’): isso é instintivo, mas não custa lembrar: emitir o som do “shhh” tem um efeito calmante. O dr. Karp ressalta que o barulho deve ser alto (lembre-se, o útero não era um lugar super silencioso!).
  • Swinging (balançar): outra dica que também é instintiva é balançar ou embalar o bebê, como se estivesse numa cadeira de balanço. Esses movimentos contínuos e repetitivos têm um efeito hipnótico.
  • Sucking (sugar): quando o bebê usa os músculos para sugar numa chupeta, no peito ou na pontinha do seu dedo (devidamente lavado), isso também o coloca num estado mais calmo.
É importante acrescentar que o dr. Karp recomenda que os 5 S’s sejam feitos nesta ordem. Segundo ele, o pai é craque nessa técnica, não só porque ele não tem medo de ser um pouco vigoroso como também porque ele costuma estar menos cansado, conferindo a calma necessária para executar a técnica com perfeição. Eu digo mais: é uma ótima oportunidade para ele criar um vínculo forte com o neném, se sentir capaz de cuidar do filho e de dar à mulher um merecido descanso.
5. Faça ajustes na alimentação

Por fim, se as dicas 1 a 4 não surtirem efeito, comece a pensar em motivos fisiológicos pelo mal-estar. Seu bebê pode ter uma sensibilidade ou intolerância a algum alimento que você costuma ingerir. Faça um teste, evitando certos alimentos como leite e seus derivados, glúten, soja, ovos ou amendoim. Mesmo assim, quero deixar bem claro que eu não acredito que a maior causa de desconforto no recém-nascido venha dos alimentos que ele ingere via leite materno. Tendo a crer que nós é que procuramos uma causa tangível (uma partícula alergênica, um diagnóstico de gases, um rótulo qualquer), quando pode ser que a explicação seja muito mais complexa e imprecisa.

Mas agora quero saber de quem de fato já passou por isso: como foi a experiência de lidar com o choro excessivo ou a cólica?

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Você sabe o que é a cólica do bebê? (sabe mesmo?)

Se você está grávida, preparando-se para tal ou com um bebezinho novo em casa, é provável que tenha pavor da terrível Cólica (com ‘c’ maiúsculo). Certamente já ouviu histórias horripilantes de bebês aparentemente angelicais que viram monstros depois de uma certa hora, deixando os pais acordados por toda a madrugada enquanto berram e esperneiam. Agora então, com a proibição da funchicórea – aquele fitoterápico que algumas mães consideram “mágico”, mas cuja eficácia não é comprovada – a tal da cólica ficou ainda mais assustadora [antes que você se zangue comigo: não estou defendendo o uso desse “remédio”, só estou informando que agora a funchicória foi proibida pela Anvisa]. Mas vamos começar pelo começo: você sabe o que é de fato a cólica?

Vamos fazer um teste?

Escolha uma das opções. A cólica dos bebês é:

a. Caracterizada por dores abdominais, geralmente causada por gases, azia ou indigestão.

b. Um termo usado para falar de qualquer dor ou incômodo físico que faça o recém-nascido chorar por mais de uma hora por dia.

c. Diagnosticada em casos de bebês que passam no mínimo três horas por dia chorando, no mínimo 3 dias por semana, ao longo de no mínimo três semanas.

d. Um rótulo colocado indiscriminadamente em bebês que choram muito por nenhum motivo aparente.

Se você escolheu a opção a, como dita o senso comum, ERROU. Chocante, não é? A cólica do recém-nascido não tem nada a ver com a nossa cólica e não necessariamente está relacionada a dores abdominais! A resposta b está próxima, mas também é incorreta. A definição oficial de cólica é a opção c: ou seja, cólica é o termo usado para descrever a condição de bebês que choram por três horas ou mais por dia, durante três ou mais dias na semana por um período mínimo de três semanas consecutivas. Mas quantas vezes você já não viu pais de um bebê de duas semanas reclamarem da cólica quando nem deu tempo de observar o bebê por esse tempo todo? Aposto que mais de três vezes – no mínimo ;-)! Por isso, eu tendo a concordar com as pessoas que marcaram a opção d: que o termo “cólica” está sendo usado a torto e a direita para rotular qualquer bebê com um grau de irritação e/ou inquietude acima do desejável, transformando o que é fisiológico (o choro) em patologia (“cólica”).

Resumindo: “cólica” é uma palavra que não explica a origem do problema, e sim descreve um comportamento comum dos recém-nascidos, que aparece geralmente a partir da terceira ou quarta semana de vida e costuma parar por volta dos três ou quatro meses. Portanto, quando pediatras, parentes e conhecidos sugerem mudanças na dieta (em geral, a eliminação de laticínios e condimentos), receitam remédios ou fitoterápicos para aliviar os gases e indicam bolsas de água quente ou massagens para reduzir o desconforto, essas ações não passam de palpites para mudar o comportamento, já que não se sabe a causa do problema, simplesmente o sintoma – isto é, o choro prolongado.

Nunca tive que lidar com um bebê com cólica, então peço desculpas se você, que já passou por isso, está se irritando com esses detalhes teóricos. Imagino que seja realmente desesperador e que qualquer um tentaria DE TUDO para fazer seu amado parar de sofrer – desde remédios com prescrição médica até duvidosos pozinhos com adoçante (a funchicórea contém sacarina). Mas, como minha meta aqui é apresentar uma nova maneira de pensar sobre temas relacionados à maternidade, vou propor uma visão alternativa sobre a cólica baseada em uma observação interessante (que, por acaso, não é nada nova): segundo estudos em recém-nascidos coreianos, iranianos e !kung san (uma tribo africana), bebês de culturas não-ocidentais passam menos tempo chorando (e, portanto, têm menos “cólica”) que bebês ocidentais. Por quê será?

Já que todos tendem a achar que cólica está relacionada ao sistema gastrointestinal, comecemos pelo básico: a alimentação. Bebês em culturas tradicionais não são amamentados seguindo o relógio, mas continuamente, conforme a necessidade. Ou seja, eles não tem horários fixos para mamar e nem são forçados a ficar x minutos em cada seio ou o que quer que seja. A mãe oferece o seio quando o bebê mostra sinais de fome. E pronto. Assim, o bebê mama pouco muitas vezes ao dia (e ao longo da noite). É totalmente plausível que isso seja melhor para seu sistema digestivo ainda imaturo. Quanto ao leite em si,  nas culturas asiáticas e africanas – onde foram comprovadas o pouco choro dos bebês – come-se uma dieta variada e condimentada. No entanto, comparado ao Ocidente, consome-se menos laticínios. Portanto, pode ser que o laticínio seja um fator para o desconforto que causa o choro dos bebês. Isso também faz certo sentido do ponto de vista biológico, já que a proteína do leite é conhecidamente alergênica para muita gente (graças a Deus eu escapei dessa, pois amo leite!).

Além da alimentação, tem o cuidado com o recém-nascido como um todo: onde ele passa o tempo quando não está mamando, em que posição fica, por quanto tempo etc. A prática ocidental de deixar bebês longe da mãe – em carrinhos, bebês-confortos, berços, balanços – geralmente deitados não é muito comum no resto do planeta. Primeiro porque requer a compra de “coisas” (carrinho, bebê-conforto, berço, balanço) que não estão disponíveis ou ao alcance das pessoas. Segundo porque esses aparelhos todos não fazem sentido fisiológico: as mulheres por gerações carregaram seus bebês em slings ou deixavam eles nos braços de uma tia, irmã mais velha ou avó e esses hábitos sempre funcionaram. Assim, os bebês não-ocidentais ficam em contato pele a pele com alguém quase sempre, em movimento e, geralmente, verticalizados e embrulhadinhos. Seja por motivos emocionais (a tranquilidade da presença de outro ser humano) ou físicos (menos desconforto fisiológico) – ou ambos! – a consequência seria uma diminuição na frequência de choro e na sua duração.

Fora esses fatores “concretos”, há também o intangível: a atitude das mães e outros cuidadores. Apesar de ter gostado do livro de Laura Gutman, A maternidade e o encontro com a própria sombra (editora Best Seller), não posso dizer que acredito 100% na tese de que o bebê seja um reflexo (ou “a sombra”) de sua mãe – tese esta que colocaria “a culpa” dos males do bebê nas questões psíquicas mal-resolvidas de sua mãe. Faz sentido que o estado emocional da mãe afete o bebê (e vice-versa, óbvio!), mas não acho que necessariamente toda manifestação “anormal” (ou melhor: “indesejável”) no bebê seja um sinal de algo que precisa ser “consertado” na mãe. Por outro lado, uma atitude tranquila e confiante da parte da mãe só pode ajudar, né? E se você já teve a oportunidade de observar mães de culturas não-ocidentais (o documentário Bebês é uma boa pedida!), deve ter percebido que elas parecem ter uma serenidade, uma falta de preocupação ou “frescura” – enfim, uma naturalidade! – invejável. Olha, como antropóloga, tenho que dizer que odeio esse tipo de generalização, mas é fato que nossa geração de mulheres (ocidentais, instruídas, profissionais) tem uma tendência à ansiedade e à preocupação acima da média. Será que isso não pode estar influenciando a “cólica” dos bebês: seja na própria incidência dela ou na percepção de sua existência?

Enfim, ficam as perguntas e a reflexão. Em breve publicarei um post mais prático (e mais curto!): 5 dicas para diminuir o choro (ou a “cólica”) do bebê.

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Nesse Dia das Mães, vamos dizer NÃO às mommy wars!

Desde quinta-feira todos estão falando da impactante capa da TIME que traz uma jovem e bela mãe com seu filho de 3-4 anos em pé num banquinho, mamando, e a provocação, em letras gigantes, “Are you mom enough?” (você é mãe o suficiente?). Nas mensagens de Facebook, no Terra, na BBC Brasil, no USA Today e em vários blogs nacionais e internacionais, não falta gente defendendo ou repudiando a matéria e/ou a realidade que ela tentou ilustrar.

Trata-se do Attachment Parenting, cuja tradução seria “criação com apego”, um estilo de maternar que preconiza um vínculo mais próximo entre pais e filhos, muito colo e carinho, e pode vir acompanhado de escolhas como a cama compartilhada, a amamentação prolongada, o uso de slings e uma opção por ficar em casa com os filhos, prolongando a licença maternidade, mudando de área ou abandonando de vez a carreira. A revista – apesar de algumas alfinetadas básicas nessa filosofia supostamente “sacrificante” para as mulheres (hm… depilação também é sacrificante, mas ninguém acha que devemos parar de fazer, né?) – conseguiu fazer um retrato equilibrado sobre as origens dessa filosofia, seu ideólogo,  seus praticantes e a atual situação (de guerra) em que se encontram as mães americanas.  No entanto, não tem como negar que, ao escolher estampar na capa a imagem de um inegável tabu para os americanos (a amamentação prolongada) e, em letras vermelhas, a inflamatória acusação disfarçada de pergunta de que algumas mães, aos olhos das praticantes do Attachment Parenting, seriam “menos mães”, a revista conscientemente jogou lenha na fogueira das Mommy Wars (guerra entre mães). Cutucaram a ferida de todas as mães – será que estou fazendo o certo? será que estou sendo uma boa mãe? – e devem estar amando toda a atenção recebida.

Criticar as escolhas das mães vende revista. Sugerir que um estilo de criar filhos é melhor ou pior, moderno ou antiquado, razoável ou louco, dá ibope. Colocar uma mulher contra outra satisfaz aquele velho estereótipo de que as mulheres  não são parceiras, que só competem entre si, que são moralmente fracas e egoístas.

Bom, eu, Clarissa, me recuso a ocupar este lugar. Não vou julgar as mães. Hoje não. Não vou julgar a mulher que tomou injeção para secar seu leite, não vou julgar as mães que não saem de casa sem a babá ou a folguista, não vou julgar os pais que oferecem coca-cola, chocolate e batata frita pro bebê e não vou julgar quem se ofendou com a foto da TIME.

Mas eu vou sim julgar e criticar uma sociedade em que mais vale a mulher que terceiriza a maternidade para ter tempo de ficar “gostosa” ou ganhar dinheiro do que aquela que escolhe viver integralmente a sua identidade como mãe. Vou me revoltar sim contra uma sociedade que permite e aplaude quando uma mulher coloca seu status sexual em primeiro lugar (sacrificando-se por horas na academia ou no salão de beleza para ficar sarada e bem cuidada) ou prioriza sua identidade profissional (passando horas no trabalho, no blackberry, viajando para reuniões e colecionando aumentos), mas que critica e xinga a mulher que “larga tudo” para ser mãe. É pra isso que estou aqui, escrevendo, provocando, ouvindo.

No entanto, hoje, peço que vocês juntem-se a mim nesta causa: recusem-se a julgar as outras mães! Vamos ouvir, apoiar, entender, respeitar. Eu sei que é difícil, mas é necessário. Portanto, se você, como eu, costuma julgar as escolhas das outras, tente, pelo menos neste dia, fazer diferente.

Aproveite para refletir, faça uma autoanálise: quem é que você costuma julgar? Mães magras, mães gordas? Mães moças, mães velhas? Mães que terceirizam, mães que ficam em casa? Mães que dão mamadeira, mães que amamentam até os 4 anos? Mães gostosas, mães largadas? Mães tecnológicas, mães terra? Mães solteiras? Mães lésbicas? Mães consumistas, mães comunistas?

Pare para pensar e, mesmo que seja só hoje, pense diferente sobre elas. Afinal, ao menos duas coisas elas têm em comum com você: são mulheres e são mães.

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Um brinde às mulheres bravas

[com direito a trilha sonora… ;-)]

Depois de dez dias de descanso na Europa e dois dias no novo emprego, ficou muito claro para mim que, mesmo me esforçando ao máximo para fugir dos rótulos, eu sou, de fato, uma ativista apaixonada por parto, mulheres e bebês. Não tive como negar: mesmo com a rica programação cultural das férias e os desafios que me esperam no trabalho, a paixão pelo universo do nascimento e maternidade conscientes brilhou mais forte. Sempre que havia uma rede wifi disponível, tirava meu smartphone da bolsa e entrava no Facebook – muito a contragosto do meu marido, diga-se de passagem – para acompanhar a incrível história da carioca que dispensou o obstetra durante o trabalho de parto porque ele decretou uma cesárea com 1cm de dilatação e, horas depois, conseguiu seu tão-sonhado VBAC (parto normal após cesárea prévia). Chorei de emoção com sua história, sua coragem e com o final feliz digno de filme hollywoodiano! Ah, se todas tivessem a sua força, nosso índice de cesárea não seria essa vergonha que é.

Depois, acompanhei o drama novelesco que se seguiu na comunidade virtual e real de doulas, médicos e parteiros que defendem (supostamente) o parto “humanizado”, mas que encenaram uma reação “oficial” de proporções totalmente descabidas. De novo, chorei, mas dessa vez de desespero, ao perceber o quanto ainda somos subjugadas a forças muito maiores, corporativistas, capitalistas, políticas, e o longo caminho que ainda temos pela frente para atingirmos o nível de respeito, em formas de opções reais e possíveis, oferecidas pela sociedade (pelo governo, pelo mercado), que merecemos. Todos os sapos que temos que engolir, e a humiliação que sofremos, nas mãos de gente egoísta ou ignorante, que não respeita as mulheres nem segue a medicina baseada em evidências. Mesmo após um dia de compras e comilança em Londres (minha cidade favorita!), não fiquei imune às lágrimas de tristeza e de raiva. Agora mesmo elas surgem com força e fúria.

Eu me revolto com qualquer pessoa ou sociedade que coloca interesses individuais ou de classe acima do direito SOBERANO que as mulheres deveriam ter de escolher o que vai entrar (e sair) de seus corpos quando e como bem entenderem. Isso vale para o sexo (“corpo estranho” entrando) e para o parto (“corpo estranho” saindo). Não podemos aceitar uma realidade em que terceiros tenham um poder maior sobre nossos corpos do que nós mesmas. O poder de nos enfiar goela abaixo uma cirurgia desnecessária, de cortar nossos corpos, de nos negar o direito de vivenciar a força primitiva e atemporal crescendo de nossas entranhas, de nos taxar de loucas, irresponsáveis ou coisa pior por assumir a decisão que é nossa de escolher como e onde queremos parir… Não posso aceitar e não vou ficar calada enquanto isso não mudar. Estou brava sim, e, como eu, muitas mulheres que carregam feridas físicas e psíquicas que dificilmente serão saradas.

Mas eu não estou falando de brindar quem é brava nesse sentido.  Na verdade, tenho horror a palavras zangadas – elas afastam, confundem e ofendem. Com elas, não chegaremos muito longe. A rede está cheia de mulheres revoltadas, zangadas… “bravas” no sentido vulgar da palavra. Mas as verdadeiras mulheres bravas às quais me refiro são mulheres que não só falam (ou escrevem) palavras bonitas, sábias ou inspiradoras; são aquelas que se levantam, se arriscam, e se expõem às consequências de suas ações. São mulheres que, com pequenos e grandes atos de bravura, atitudes convictas e postura impecável, fazem escolhas difíceis, porém certeiras e, por isso, merecem todo o meu respeito e minha reverência.

Levanto, então, a minha taça virtual para brindar essas duas mulheres bravas do Rio de Janeiro (e todas as outras “dirty little freaks” Brasil afora): sem vocês, sem a sua coragem para servir de exemplo e inspiração, ficaríamos inertes e impotentes, fechadas no mundinho seguro e “limpinho” da retórica e do idealismo. Em tempo, todas nós que acreditamos e lutamos para uma realidade obstétrica digna de um país que quer pertencer ao grupo dos países desenvolvidos teremos a coragem e a convicção de nos juntarmos a vocês. Eu já estou na fila, só esperando o meu momento.

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