Era um vez uma futura mãezinha, linda e barriguda, levando em sua cestinha perguntas para a vovozinha. Sua avó era uma sábia anciã, que havia parido 10 filhos em casa, com parteira, e ajudara a trazer ao mundo seus 27 netos. A futura mãezinha estava grávida do primeiro bisneto da anciã e tinha certeza de que poderia contar com a sua avó para controlar seus medos e ansiedades. Sabia que suas dúvidas seriam ouvidas com carinho e que poderia encher sua cestinha com dicas de como se preparar física e emocionalmente para o dia em que traria seu filho ao mundo. Mal sabia ela, a jovem mãezinha, que o lobo mau estava à espreita.
O lobo mau era o dono do pedaço. Dominava todos os bichos da floresta com sua astúcia e sua força. Gozava de muitos privilégios por ser o bicho mais poderoso da floresta. Mas a vovozinha era uma pedra em seu sapato; ela por si só até que era inofensiva, mas seu estilo de vida não era o que o lobo queria para sua floresta, que estava aos poucos ficando do jeito que gostava: ordenada, previsível, vigiada. No casebre da anciã, as flores cresciam sem a menor lógica, as ervas daninhas não eram extraídas com a devida diligência e o fogão ainda era a lenha. Tudo muito antigo e primitiva, segundo o lobo. A velha também não comparecia às reuniões promovidas por ele; às vezes, ignorava seus avisos, mostrando-se resistente ao novo visual, limpo, moderno e avançado, que ele queria dar à floresta. Estava na hora de ensinar a ela uma lição.
O lobo foi à casa dela e, sabendo da visita semanal da sua neta grávida, aproveitou-se da ingenuidade da velha para lhe dar uma paulada na nuca, escondê-la no armário, e começar seu teatrinho. Sentiu um frio na barriga e uma descarga de adrenalina. A verdade é que o lobo gostava do poder, mas gostava também de se fantasiar – de ovelha ou de vovózinha, não importava. Vestiu as roupas da velha, colocou a touquinha na cabeça e tratou de relaxar seus músculos e suavizar o seu olhar para ficar com cara de bonzinho.
A mãezinha apareceu, ansiosa e sem fôlego, e foi logo ao assunto.
“Ai, vó, estou tão cansada! Essa barriga pesada, as pessoas toda hora me ligando, perguntando se já nasceu… Não aguento mais,” desabafou.
“Minha filha,” começou o lobo, em tom compassivo, “não se cobra tanto. Hoje em dia, ninguém precisa mais passar por isso. Por que você não marca logo a cesárea como fizeram suas amigas?”
“Mas, vó,” protestou a jovem, “até parece que a senhora não ouviu nada do que eu disse esses meses todos. Eu quero parto normal!”
“Sim, filhinha,” disse o lobo, alisando as orelhas. “Mas o neném já tá prontinho, o quartinho também, as roupinhas lavadas e passadas. O médico não disse que já podia nascer? Hoje em dia a cesárea é super segura, pra quê tentar o normal?”
“Vó, não estou te reconhecendo. A senhora não vê que isso é papo de médico, só por que é mais conveniente para eles? Eu sei dos benefícios do parto normal e prefiro esperar.”
O lobo esfregou os olhos. Tentou uma nova estratégia.
“Tudo bem, minha filha. Você pode tentar. Mas saiba que na nossa família, as mulheres têm a bacia muito estreita. E os bebês hoje em dia são imensos. Na hora, não fique chateada se você não tiver passagem.”
Isso foi demais para a mãezinha da capa vermelha. Ela tinha lido os livros certos e frequentado grupos de apoio: sabia que isso não passava de uma tática para meter medo nas mulheres. Definitivamente, algo não cheirava bem.
“Não, não e não!” gritou ela, assustando o lobo. “Eu sei que todas as mulheres da família tiveram parto normal, caso contrário, não estaríamos aqui hoje. Sinto, do fundo do coração, que eu também serei capaz de parir. E vejo que você não é quem você diz.”
“Calma, mãezinha,” tentou o lobo. “Eu só quero o melhor para você. Posso te oferecer o melhor da tecnologia e da ciência. Um parto rápido, limpo, planejado e sem dor.”
Finalmente, o lobo mostrou as garras: era mesmo um lobo cesarista, como ela suspeitara.
“Dr. Lobo,” disse a futura mãe, em alto e bom tom. “Você me subestimou. Achou que eu era mais uma mãezinha mal informada e ingênua. Mas, dessa vez, doutor, quem se enganou foi você. Eu sou a mulher da capa vermelha, sou guerreira – luto para conseguir o que eu quero – e eu vou parir o meu filho.”
E com isso, abriu as portas do armário, segurou sua vózinha com firmeza e saiu da floresta do lobo.
Hahaha… O lobo cesarista! Eu, que queria tanto ter parto normal, acabei fazendo 2 cesarianas. Mas a recuperação foi super-rápida, sem nenhuma complicação. Só ficou uma cicatriz feia, mas eu nem ligo. Beijos, querida Cla! Parabéns pelo novo blog!
Tem que divulgar para as revistas de bebês… Olhe o expediente das revistas e mande email com o endereço, explicando em poucas linhas o que é o blog. Aposto que vai sair alguma nota!
A-do-rei! O texto é seu? Muito bom!
Sim! Que bom que gostou. Bjo!
Nossa! voce escreve muito bem…muito legal! lindo mesmo!! Espero fazer parto normal também e fugir do lobo cesarista! >D
Pingback: Sete razões para não marcar o seu parto | a mãe que quero ser
Pingback: Sete razões para não marcar o seu parto « Rebecca Lerina
kkk muito bom!
Só acho q a cesárea não deve ser algo totalmente descartado e visto como um mal sempre, afinal ela é um progresso e comprovadamente têm casos em q salva vidas.
Qtas mães e/ou filhos morriam antigamente pela falta desse recurso???
Concordo q sua real necessidade é beeeem menor, mas existe.
Também não acho legal a mulher ficar super na expectativa d só normal, normal, pq, é mínimo, mas pode acontecer d ser necessária uma cesariana… digo com propriedade, pq eu mesma caí nesse erro, e me senti super frustrada qdo não pude ter minha filha por parto normal…
Só pra lembrar q, na dúvida, também é bom ter um “lobo” por perto…rs
Olá tenho 2 filhos nascidos de cesárea será que vc tem um email para trocarmos informações ? Gostaria de ter outro filho e gostaria de contar em detalhes os meus partos e o que pode ser feito no próximo.
Cynthia, obrigada pelo comentário. Eu sugiro que você vá a um grupo de apoio ao parto normal. É possível ter PN depois de uma ou duas cesáreas, mas você precisará de uma equipe muito alinhada com essa crença. De qual cidade você é? Abraço, Clarissa
Sou de belo horizonte