Confesso que tenho uma visão muito romântica de como é “estar grávida”. Imagino-me num perpétuo e profundo estado de graça, ciente e sentiente de estar gerando uma nova vida. Se fosse escrever um poema (coisa que definitivamente não farei – por razões que você entenderá logo), escolheria palavras como: semente, segredo, tesouro, dádiva, luz, sublime… (não disse que não sou poetisa?!) As imagens que aparecem para mim são transcendentes, carregadas de vida, amor e fé nas forças da natureza. [Imagino que as leitoras que já passaram por isso estejam rindo muito neste momento!]
Definitivamente, essa imagem “deusa-mãe” não é a impressão que me passa a maioria das grávidas no meu círculo de amizades. Pelo contrário, nelas predominam o estranhamento, a ansiedade (para não dizer pavor) e a resignação. Lembro-me de uma ocasião em que uma grávida me falou que se sentia possuída, como se o feto de poucas semanas de gestação estivesse roubando-lhe as forças e os nutrientes. Imediatamente, pensei naquele filme Alien, o 8º passageiro. Recentemente, uma amiga querida caiu aos prantos e confessou sua culpa por ter, sem querer, sido exposta a toxinas quando visitou o seu apartamento, que estava em obras; soluçando, se crucificou por um possível futuro câncer em seu filho. Uma outra amiga concordou em brindar a boa notícia de sua gravidez com um pouquinho de champanhe, já que sua médica havia liberado o consumo de uma taça de vinho de vez em quando.
São experiências muito diferentes entre si, mas todas revelam um elemento da gravidez que muito me assusta: a entrega do próprio corpo. No primeiro caso, o corpo está entregue a uma criatura compreendida e sentida não como simbiótica, mas parasita (para lembrar o curso de biologia, simbiótico é o relacionamento em que ambos se fortalecem; parasítico é aquele em que um se aproveita do outro). No segundo, a gravidez fica entregue aos medos profundos e as neuroses existentes em todas nós, mas que podem se tornar mais difíceis de contornar ou de sufocar nessa fase tão sensível e intensa da vida de uma mulher. Por fim, no terceiro, o corpo e, especialmente, a nova vida que brota dentro dele estão entregues ao saber médico. [Aqui vou fazer um parêntese: não estou falando que minhas amigas passaram a gravidez inteira tomada por esses sentimentos, somente que são pontos de partida para uma reflexão].
Tenho medo de olhar no espelho e me enxergar nesses exemplos quando chegar a minha vez. Não quero pensar no meu filho, tão desejado, tão esperado, como um parasita faminto que está roubando minhas forças e minha senhoria sobre o meu corpo, que, com seu crescimento descontrolado, me força a adquirir formas e contornos estranhos. Não quero ser tomada por pavores irracionais nem mergulhar nas profundezas da minha psique e descobrir monstros horrendos ou, pior, uma criatura insegura e neurótica. Tampouco quero entregar decisões básicas e inalienáveis da minha vida – tipo, o que comer e beber – para uma médica que pode estar se baseando em crenças pessoais, pesquisas datadas (não é o caso da médica da minha amiga, diga-se de passagem) ou impulsos extremamente controladores. A verdade, admito, é que eu não suporto a ideia de abrir mão da minha idealização, da minha autoimagem, da minha autonomia.
Mas não seria a gravidez o perfeito momento para tamanha entrega? Para soltar de nossos punhos cerrados nossas verdades e certezas, lançando-as ao imponderável e, aos poucos, mesmo que sofrendo, mesmo que relutante, abrir um espaço real e possível para um outro ser?
Olá, gostei muito do seu texto. Me lembrei da minha gravidez (minha filha tem agora 6 meses). Lembro de viver em estado de graça por 15 dias depois da notícia. Me sentia como que iluminada por dentro, carregando um tesouro secreto que apenas eu, meu marido e aquele pequeno serzinho sabíamos. Era delicioso andar na rua, olhar as pessoas e pensar que ninguém sabia daquilo, que era nosso segredinho! Depois veio um desânimo por não sentir mais nada. Pode parecer estranho, mas eu explico: eu não tinha enjôos, nem náuseas, nem sono, nem barriga, nem nada! Parecia tudo muito virtual, eu não me SENTIA grávida, como no comecinho, eu precisava PENSAR que estava grávida. A única realidade sentida era que eu abandonaria meu planos e projetos profissionais dali há algum tempo. E aí veio a fase do luto, luto por deixar de lado tudo que eu fazia. Era a despedida de outros planos e sonhos. Foi doídinho, mas não muito. Mas teve sua parcela de sofrimento. Depois veio a barriga e logo depois a sensação do bebê mexendo, daí em diante…eu vivi a gravidez intensamente. Só pensava no tema, só falava disso. A cada dia uma sensação nova, muitas mudanças no corpo, umas mais desagradáveis (dor nas costas e virilhas por exemplo) e outras deliciosas, como a energia que me inundou no segundo trimestre. Eu me sentia linda e querida, afinal, que pessoa não sorri qdo vê uma grávida e seu barrigão? Eu recebia sorrisos e olhares ternos na rua. Depois comecei a perder a autonomia e liberdade. De atos e do próprio corpo. Nem se locomover livremente era mais possível no final. O bebê está sempre lá, se fazendo presente, cada dia mais. Essa perda de autonomia nunca me incomodou, pois minha ausência de liberdade significava a presença do bebê!! Depois do parto lembro do alívio de poder ( e conseguir) andar rápido, levantar correndo da cama. Senti meu corpo novamente somente meu. Enfim, acho que 9 meses são bastante tempo, tempo o suficiente para vivermos esta experiência em todas as suas facetas. O deslumbramento e o encanto, o estranhamento, as angústias e medos! Alegria e sofrimento. Somos vários tipos de grávidas em uma só e depois, com certeza, múltiplas mães em uma única!
Gostei muito do seu bolg. Acabei me empolgando e escrevendo bastante, espero que te interesse! :) Estou pensando (e relutando) em fazer um. Quem sabe. Beijos e boas “tentativas oficiais”. Que sejam gostosas e frutíferas, rs.
Patrícia
Patrícia, obrigada pela visita e pelo belíssimo relato da gravidez. Você tem um jeito com as palavras – vá lá fazer seu blog! Coragem! Eu “gestei” o meu blog por alguns meses antes de começar a escrever e a divulgar, mas valeu a pena. Volte sempre! Bjo, Clarissa
p.s. eu sempre sorrio para grávidas na rua :)
kkkk adorei essa:
“Eu sempre sorrio para grávidas na rua”
Eu também! E além d pra elas, também pra toda e qq criança ou bb q passa por mim! Adoooro!
Sinceramente a gestação é sem dúvidas um período onde a metamorfose sobrepõe muita coisa. O fato d tudo mudar na gente, assusta, agrada, traz novidades, ansiedades, alegrias e também sofrimentos…
Mas indiscutivelmente é sim um período único, um momento ímpar, entre nós (conosco mesmas) e nosso bb.
Ninguém q não tenha vivido isso, é capaz d descrever c fidelidade o q acontece!
Ao mesmo tempo q queremos q não acabe, torcemos pra acabar logo para q possamos ver nosso “resultadinho”! rs
Uma fase d extremos e contradições, físicas e sentimentais!
Coisa d louco, q enlouquece a nós e quem está a nossa volta… hehe
Um conselho é:
Se ainda não passou, espere até passar.
E se já passou, confesse q queria voltar a passar… é por aí! rs
Olha… realmente um dilema… minha primeira gestação, há +- 10 anos, foi bastante tranquila (no sentido de não ter tido mtos enjoos nem maiores contratempos)… O fator psicológico complicou um pouco pq não foi planejado. Desta vez, esta gravidez foi super planejada. Confesso que, apesar da decisão de ter outro filho, eu tinha um medo (será?)… até ver o positivo! Esse medo sumiu na hora! Dps… as coisas foram uma delícia… até que começaram os enjoos que dessa vez me pegaram de jeito… cheguei a perder peso no início por conta disso. Mas, ainda assim, apesar o mal estar fisiológico, eu me sentia preparada para os enjoos e isso não me afetava… até que…. a barriga começou a crescer, mais rápido que da primeira vez e eu tomei um susto! Eu me cuidava tanto! Daí dps de mta conversa com mtas mulheres descobri q isso era normal para uma segunda gestação. Mas, dps eu descobri algo: q eu me preparei para engravidar, planejei e tals, mas esqueci de me preparar para ficar barrigudinha… rsrsrs com aquela barriga que ainda gera alguma dúvida se vc está grávida ou gordinha, eu tinha vergonha e usava roupas largas…. isso foi bem ruim! Mas, dps passou! Enfim, dores nas costas, pernas, dificuldade para dormir, falta de ar, arritmia (leve, nada preocupante), mas enfim… mta coisa super diferente! Eu sempre acreditei que uma gravidez é diferente da outra, mas sentir na pele é outra história. Ainda assim eu me sinto no melhor momento. Estou de 30 semanas e já ficando com sdd da barriga! Tem hora que os movimentos da bebê doem e até posso dizer que incomodam.. mas são mto bons!! Eu sei q vou sentir falta dps!!