A boa mãe, ou, que p*rra é essa?

“O verdadeiro desafio da maternidade é você, não seu filho”Oliver James

Quando pergunto a uma amiga que tipo de mãe ela quer ser, invariavelmente escuto como resposta “uma boa mãe”. Oras, assim é fácil, né? Toda mulher que sonha e se prepara para ter um filho quer ser uma boa mãe! Mas o que será isso – seria uma espécie em extinção, uma figura celestial ou um mito inalcançável? Eu, pessoalmente, não acredito muito nesse ideal único de “boa mãe”. Sou adepta de Winnicott, o psicanalista inglês que disse que a boa mãe é a mãe boa o suficiente. Acredito na mãe possível, que faz escolhas conscientes, se informa para fazer o que é mais natural para ela e para o seu filho, sem ter medo de colocar nessa equação as suas próprias necessidades. É uma mulher que se prepara com informação e autoconfiança, e que toma decisões baseadas na própria felicidade e bem estar, ao mesmo tempo em que garante as necessidades dos filhos. Uma mãe sem culpa, que não padece em paraíso. Não sei se isso existe, mas acho uma meta saudável.

Um tempo atrás, recebi para avaliar na editora o livro de um psicólogo inglês chamado Oliver James, especialista em expor alguns “podres” da sociedade britânica e fazer seus compatriotras refletirem sobre assuntos difíceis e polêmicos. Um desses livros se tornou um pequeno clássico por aquelas bandas: They F**k you Up (“Eles f*odem com a sua vida”), título inspirado num poema genial de Philip Larkin, que analisa os efeitos nocivos de escolhas inadequadas na primeira infância (de 0 a 6 anos). Por que estou falando disso? Porque a continuação, How not to F**k them Up (Como não f*der com a vida deles), o livro que avaliei, apresenta alguns conceitos interessantes.

James divide as mães em três grupos básicos, baseado na personalidade de cada uma: a organizadora (“organizer”), a grude (“hugger”) e a flexi-mãe (“flexi-mum”). As duas primeiras caiem nos extremos, representando 25% da população (cada), enquanto metade das mães se identificam como flexi-mães (um meio termo).

A típica organizadora não muda sua rotina para o bebê

A mãe organizadora poderia ser chamada de “executiva”, exemplificada pela imagem de uma mulher de terno, salto alto, notebook e nem um fio de cabelo fora de lugar. Ela tende a ser organizada (duh..), regrada, disciplinada, ambiciosa e super racional. A gravidez da mulher organizadora, de maneira geral, não é vivida como um prazer e sim um “mal necessário”. Estar grávida é sentir-se invadida, com o corpo entregue a um outro ser. Essa mulher não gosta de ser lembrada do seu lado “bicho” e, de maneira geral, tenta colocar um senso de ordem e regras no corpo gravídico. Ela curte as consultas médicas e os exames (até mesmo os mais invasivos),  porque conferem uma sensação de que está tudo “sob controle”. Como valoriza o tecnológico e teme as forças “caóticas” da natureza, tende a agendar seu parto, seja induzindo um parto vaginal (lá fora, nunca aqui no Brasil) ou marcando a cesárea (mais comum por aqui). Sente-se muito desconfortável na primeira fase de vida do bebê, que ela entende como um bichinho dependente e assustadoramente frágil. Ela é fã de rotinas, horários, babás (eletrônicas ou não), mamadeiras e chupetas. Sua missão é civilizar o filho, fazê-lo entrar numa rotina e ganhar sua independência. Sente-se frustrada com o rompimento da sua rotina, sua identidade como profissional e mulher independente, podendo (ou não) descontar isso no filho.

Felicidade, para a mãe grude, é estar com seu filho

Já a mãe grude é o oposto de tudo isso. Imagine uma mulher de saia e sandálias, cabelos soltos e sem maquiagem, pronta para sentar na grama com sua cria e brincar na lama se for preciso. Sua maior ambição é ser mãe e sua meta é estar presente em todos os momentos da vida do filho. Ela adora ser mulher e se sente abençoada por poder gerar um filho em seu ventre. Sonha com um parto natural, conversa com o bebê desde que se descobriu grávida e, depois que ele nasce, não quer ficar um minuto longe dele. Adora amamentar, não deixa o bebê chorar por mais de 5 segundos e  até dorme junto a ele se possível. A mãe grude, também chamada de mãe mamífera em alguns círculos, esquece do resto do mundo  pelos primeiros meses da vida do seu bebê, dedicando-se a ele de corpo e alma. Podendo escolher,  ela nem volta da licença maternidade, optando por ficar em casa e cuidar do filho em tempo integral. Palavras que predominam no vocabulário das mães grudes incluem: natural, orgânico, atenção, colo, amamentação prolongada, não-violência, vínculo, sintonia. Sua missão é criar o filho com carinho e paciência, colocando suas necessidades à frente das demais (carreira, casa, marido, visual). Seu maior medo é sentir que o filho não precisa mais dela e ela pode, inclusive, acabar inconscientemente limitando a sua independência a medida que ele cresce.

Nenhuma dessas mães é perfeita – a organizadora chamaria a outra de “xiita, hippie, doida” e a grude a chamaria de “egoísta, fria, desnaturada”. Mas ambas podem ser boas mães. E engana-se quem pensa que a flexi-mãe consegue fazer “o certo”. Porque isso não existe. Qualquer um dos estilos é válido. Segundo James, só não vale a mulher fingir ser algo que não é, nem se convencer de que o seu estilo é o mais correto. O importante, na maternidade como na vida, é estar feliz com suas escolhas (e assumir as consquências das mesmas).

Eu tenho fortes tendências da mãe grude, mas com umas pitadas de organizadora. E você: se identifica mais com a organizadora ou com a grude?

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10 Comentários

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10 Respostas para “A boa mãe, ou, que p*rra é essa?

  1. Bianca Zadrozny

    Adorei! Eu sou totalmente em cima do muro…uma perfeita flexi-mom! E feliz com isso :). Bjs.

    • Bianca, ser flexi-mãe não é ser em cima do muro e sim escolher o caminho do meio: nem se entregar totalmente à rotina do bebê e nem esperar que ele seja independente e autônomo desde os primeiros meses de vida. A flexi-mãe abre espaço para exercer todas as suas identidades de forma mais equilibrada. Mas corre o risco de não dar conta do recado e se sobrecarregar.. tudo isso segundo o Oliver James, lógico. Mas concordo que essa é a escolha que mais se aproxima da “ideal”, porque é mais democrática, né? Muito bom ver você por aqui :) bjo!

  2. A maioria das mães que conheço são flexi-mães, inclusive eu, o que tb nos faz ter uma enorme sobrecarga… mas acho que tenho uma forte tendência para o estilo grude, embora trabalhe, malhe, me cuide… minha alma é grude, mas tenho tb meus ímpetos da organizadora, adoro rotinas e ter o controle…. Difícil ser mãe…rs Adorei o texto!!!

  3. kkkkkkk…eu acho que serei gruuuuuuuuuuude, mas também sou muito organizadora. E agora?

  4. Minha filha esta com 10 meses e me identifiquei com todos os aspectos da “mãe grude”. Espero dem verdade que isto nao venha ser um exagero da minha parte se tornando um defeito.

    • Patrícia, eu acho que sua filha está muito novinha ainda e ser mãe grude nesta fase é o melhor para ela mesmo (segundo o autor do livro, que acredita que os bebês até 3 anos precisam de muito carinho, atenção e contato individual). Ele só diz que a mãe grude deve ficar atenta para a motivação: às vezes, ela pode não querer desgrudar da cria por uma carência que é sua e que precisa ser analisada. Fora isso, vai fundo e mima bastante essa filhota, com beijos, abraços e muita atenção. E apareça mais por aqui :) Bjo!

  5. Natasha Delfino

    Minha Marina de “quase 3 meses” tem uma mãe grude por aqui! Acho que ser uma flex-mãe é uma tarefa um tanto árdua, então, entre escolher necessidades de gente grande ou de gente pequena, opto pela segunda sem pestanejar!

  6. Patrícia

    “Eu tenho fortes tendências da mãe grude, mas com umas pitadas de organizadora.”
    Sou exatamente assim! rs
    Minha parte grude predomina no início, qdo julgo q é mais necessário à criança. Sou dedicação total nos 2 primeiros anos. Largo emprego e tudo pra estar ali do lado dos meus filhotes… Comigo isso é prioridade e imprescindível. Tempo q num volta mais…rs
    No entanto dos 3 pra frente, já deixo a coisa correr mais independente… Aí entra a organizadora, q quer se cuidar também, se dedicar ao trabalho e tudo mais…
    Enfim, eu nasci com um instinto maternal muito apurado, e paralelo a isso com um senso d independência bastante acentuado também. Mas o bom é q ambos se completam, e convivo bem nesse “meio a meio”! rs

  7. Paula Inara R Melo

    Eu quase tive uma crise de identidade após ler esse post. Tô dividida! Escolhi o caminho do meio, mas tem momentos em que quero ter o controle de tudo quando o melhor é sentar na grama e brincar na lama! Vai entender… Se fosse um teste daqueles de revista eu me identificaria como flexi mãe..

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